O Cão de Kafka

O CÃO DE KAFKA

O espetáculo O Cão de Kafka, prêmio ProAC  Produção, é inspirado no conto “Investigações de Um Cão”, de Franz Kafka, escrito em 1922. A concepção e direção é de Marcya Harco e tem como protagonista o ator Paulo Drumond.

A dramaturgia de O Cão de Kafka é expressa por elementos imagéticos e camadas sonoras mescladas a trechos primordiais, os quais sintetizam a natureza da obra kafkiana.

O espetáculo propõe a integração da linguagem teatral a recursos audiovisuais e conexões. Ancora-se na circunstância dialógica entre o ator, espectador(a) e o espaço virtual, criando um campo de interação.

A encenação é baseada em trechos da obra de Kafka, na qual o personagem principal, um cão, conta para a sua plateia algumas experiências marcantes, em épocas variadas de sua vida, desde a infância até a velhice. Essa plateia, o público, é referida pelo cão como a sua própria comunidade de cães. Como um cientista, um pesquisador, ele realiza uma análise metafísica e existencial de seu estado. Recorre a indagações sobre a origem do alimento no mundo, levantando questões sobre a fome, a arte, a cultura e a natureza das coisas. Entremeando e interferindo nessa narrativa, por meio de elementos dramáticos e performativos, a encenação vai suscitando, imagética e sonoramente, momentos que são, sensações, sonhos, perturbações, angústias, dores, alegrias de infância do personagem.

O cão protagonista apresenta racionalidade lógica e emocional e em nenhum momento faz referência a qualquer presença humana. Tudo está centrado em seu mundo “caninocêntrico”, discorrendo suas ânsias e peculiaridades sobre a comunidade de cães, a qual o rodeia.

O Cão de Kafka propõe aos espectadores cogitar experiências sobre o sentir, relembrando às habilidades mais apuradas dos cães, como o olfato, a audição e a visão, aguçando um estado de curiosidade investigativa a respeito da razão humana, da ética e da animalidade latente.

Kafka faz surgir o animal em muitas de suas obras. A metamorfose e o devir estão presentes nelas. Defende o indecifrável e o incompreensível que inflige os mundos dos humanos e dos animais, permitindo que eles guiem suas formas de escrita. No espetáculo O Cão de Kafka, entramos em devir entre o ator e o animal cão, convidando o(a) espectador(a) a “performar” mentalmente, a reelaborar a sua poética em um processo de devir-animal.

E o que é o devir-animal? Não se trata de imitar um animal, mas dispor uma consciência desse animal, uma vivida proximidade com ele. A sua própria forma vital não é necessária, mas sim, captar o vislumbre do dinamismo do animal em uma visão intuitivamente estética. Em O Cão de Kafka, o ator Paulo Drumond entra em devir-cão, um limiar fronteiriço entre o distanciamento e a aproximação com o animal.

O Cão levanta questões relacionadas a fome e a solidão, entre outras. Edward Osborne Wilson, um dos mais destacados biólogos da atualidade, argumenta que estamos vivendo na era dos Eremocenos ou seja, a Era da Solidão. A humanidade, perdendo a possibilidade de ter uma relação aberta com a alteridade, perde, de modo inevitável, sua posição simbólica na Terra e sua própria identidade. Este processo de desertificação chamado de Sexta Extinção poderia ser o maior crime cometido pela humanidade nos últimos 200 mil anos de história. Um crime contra a vida em si e toda a sua estrutura. À luz dessas premissas, surge a convicção de que uma investigação filosófico-cultural se deve às raízes profundas dessa possível e iminente "Era da Solidão".

O espetáculo O Cão de Kafka propõe a aproximação do(a) espectador(a) desse universo dos devires, não como um(a) contemplador(a) em passividade, mas sendo convidado(a) a vivenciar uma experiência significativa, participar do ato criativo em devir, como um norte para o entendimento de si mesmo e do outro, seja animal, vegetal ou mineral.

O cão narrador, em sua análise enigmática diz em determinado momento: “Cães assim como você e eu.” Ao recorrer ao espectador(a) (você e eu) como se nós também fossemos cães, Kafka delicadamente convida a nos assemelhar com o cão investigador, levando-nos imaginar sob o ponto de vista desse animal. Essa identificação nos leva a um devir-outro, um processo de reconhecimento, de empatia, sugerindo caminhos, através da temática ou da forma que cogitam questões importantes sobre os limites da humanidade.

Ficha Técnica

O Cão de Kafka

Concepção e Direção – Marcya Harco Inspirado na obra de Franz Kafka, “Investigações de Um Cão”
Texto – Trechos e adaptações desenvolvidas em improvisações com o ator, a partir do original alemão “Forschungen eines Hundes”, editado por Gustav Kiepenheuer e das traduções de Modesto Carone, Marcya Harco, Paulo Drumond e LeBooks
Ator – Paulo Drumond
Coreografia – Marcya Harco (adaptação da obra coreográfica de Vaslav Nijinsky para a “A Sagração da Primavera”, de Igor Stravinsky)
Produção Executiva – Emergência Cuadrante
Criação audiovisual – Tatiana Travisani
Trilha original – DeCo N. // Alexandre Marino
Direção de arte – Ivan Ferrer
Direção de Fotografia – Andy Barac
Projetista de Som – DeCo N. // Alexandre Marino
Mixagem e finalização de áudio – Alexandre Marino // Estúdio Arranhador
Criação de Interatividade – Tatiana Travisani // Andy Barac
Projeção – Tatiana Travisani // Ivan Ferrer
Edição de Projeção – Mariana Furukawa
Captação de Imagem – Michel Botto
Iluminação – Andy Barac I
magens Aéreas – William Lima
Assistência de Fotografia – Mariana Furukawa
Captação de Som – Alexandre Marino
Edição de vídeo e Pós-Produção – Andy Barac Mariana Furukawa
Figurinos e adereços – Ivan Ferrer
Assistência de Arte – Raquel Borges
Costureira – Iolanda Ferreira
Assistentes de Produção – Bruno Alves Mariana Furukawa Raquel Borges
Making of – Barbara Jadeh
Criação Gráfica – Daniela Benite
Impulsionamento // Divulgação – Nathy GBS Marketing Digital
Apoio Social Media Instagram - Agostinho.exe
Apoio Social Media Facebook - Érica Franze
Assessoria de Imprensa – COMBO Comunicação
Administração – Sonhos de Uma Noite Produções Artísticas
Realização – Cia. Lúdica (https://www.cialudica.com.br)

Projeto contemplado pelo Edital ProAC n° 01, da Secretaria de Cultura e Economia Criativa, do Governo do Estado de São Paulo.

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